sábado, 11 de dezembro de 2010

Alegria.

O sol raiava na rua. Ouviam-se os pássaros a chilrear e o riacho a correr. A brisa entrava por entre as fendas da janela. As pálpebras resistiam.

"Acorda Miriam, acorda" - gritou a irmã mais nova enquanto entrava no quarto aos saltos - "vem ver o que o pai nos trouxe". Nesse momento as pálpebras desistiram, os olhos brilharam, a cabeça levantou, o pescoço estalou, o corpo reagiu e as pernas começaram a correr desenfreadamente pelo corredor. Na cozinha ouvia-se um tagarelar sem fim, risos e gritos histéricos. Entrou, empurrou todos e vislumbrou o que mais queria vislumbrar. Os seus olhos não podiam acreditar no que viam. Por entre um soluçar alegre abraçou o pai, beijou a mãe e sorriu alegremente para a irmã.

Debaixo o sol quente daquela manhã fria, ao som dos pássaros que chilreavam e do riacho que corriam campo abaixo e ao ritmo da brisa que descia das montanhas, foi a correr por entre os prados dourados. Tinha que o experimentar. Tinha de ser agora.

Os prados esperavam pacientemente o dia da ceifa. Este ano tardava. Os homens da vila tinham estado longe, em trabalhos bem mais importantes - era essa a palavra que o vento transportava - e pareciam ter deixado o ouro dos campos ao abandono. Mas começavam a voltar. Um a um. Tal como o pai de Miriam. Voltavam felizes.

Não se sabe bem o porque de estarem felizes. Se por lá terem estado, se por voltarem.

Voltando a Miriam, corria por entre o trigo com o seu novo papagaio na mão. Não era um papagaio qualquer. Era um papagaio que o pai lhe tinha dado. Esta manhã. O pai que voltara para casa, para junto dela, da mãe e da irmã. Tal como prometera voltar. Era um papagaio com cornocópias verdes e amarelas, como mais ninguém tinha.

Correu com ele o dia todo. Até à exaustão. Até não poder mais, até não haver vento.

Chegada a noite, sorria enquanto ia adormecendo lentamente. Cansada, mas feliz.

Amanhã seria outro dia, com o sol a raiar, com os pássaros a chilrear e riacho a correr, com a brisa a passar e, agora, com o papagaio para soltar.

Papagaio, papagaio, para onde me vais levar, amanhã?

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Frio.

Já era tempo de o Inverno chegar. Todos esperávamos. Alguns de nós queriam.

Então o que é o Inverno? São os casacões grandes, pesados e quentinhos, são as meias de lã, as luvas, os gorros e os cachecóis? É o gelo, o granizo e a neve? São os dias com pouco sol? São os dias em que no pouco tempo em que o sol poderia brilhar está a chover? É ter medo de sair da cama por causa do frio? Para mim é isso tudo. Isso tudo e mais algumas coisas.

Não vou dizer que tinha saudades, pois gosto do Verão, mas lá que sabe bem...