sábado, 13 de novembro de 2010

O velhinho da Rua de S. Bento.

Pôs-se de pé, e seguindo pelo corredor abaixo, com a respiração ofegante, ia-se apercebendo do silêncio que se fazia ouvir por toda a casa. Assustava. Afligia. Matava.

Chegou, por entre um tombo e outro, ao fim do corredor. Abriu a porta e caiu sobre os seus joelhos. A vida não foi desenhada de maneira que os pais vejam os filhos morrer. Nem os netos. A realidade dura e crua apoderava-se do Avô. Redondos no chão, jaziam todos os que ela se lembrava amar. Pairavam as leves e breves memórias de uma vida feliz e recheada que tivera ao lado deles.

O dia do primeiro beijo da filha no, então, namorado. O casamento. O primeiro dente do primeiro neto. O primeiro jantar com todos os que, até àquele dia pelo raiar da manhã, compunham a família. Mais do que qualquer outro sentimento que lhe invadia a alma naquele momento, a solidão feria-o de morte a cada segundo que passava. Não era a dor, não era a saudade, não era a tristeza. Era a solidão.

Hoje, passado tanto tempo que nem ele consegue contar, passeia-se por entre ruas e jardins. Espera naturalmente o dia em que voltará a ver os que tanta falta lhe fazem.

É esta a sua história, Senhor?

Sem comentários:

Enviar um comentário