terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Ela.

O ar gelou, o coração parou. Lá vinha ela outra vez, na direcção dele. Os cabelos brilhavam intensamente sob a luz do sol que entrava através dos enormes vidros. O corredor parecia, agora, longo como um rio, largo como uma planície e a escadaria lá ao fundo parecia ser uma espécie de Evereste. Ela avançava. Parecia estar tudo a acontecer em câmara lenta. Os passos ecoavam no corredor vazio, faziam uma e outra vez estremecer as entranhas do pobre Miguel.
Ela, do alto daqueles deslumbrantes saltos pretos, emitia uma aura excitante. A sua cara de anjo e as suas curvas diabólicas faziam muitos tombar, tal como estava prestes a acontecer ao nosso amigo. Quer dizer, parecia que sim. Miguel transpirava e tremia quando via Raquel não por estar apaixonado pela beleza épica desta sua amiga de infância, mas por estar apaixonado pela menina feia com quem tinha jogado à apanhada e feito os trabalhos de casa. Raquel mudara muito, a cara cheia de borbulhas deu lugar a uma pele sedosa e radiante, o aparelho deu lugar a um sorriso brilhante, os totós deram lugar ao penteado mais bonito do mundo, o patinho feio deu lugar ao cisne. Por dentro continuava a mesma. Tinha 22 anos mas continuava a ser uma menina. Uma menina afável, querida e humilde.
Ela finalmente chegou ao pé dele. Cumprimentaram-se com um beijo apaixonado e ficaram um momento a olhar um para o outro. Sorriram, sabiam que se tinham um ao outro.
Fazia agora 9 anos que estavam juntos. Em momento algum Miguel deixara de sentir um nervosinho quando ela se aproximava dele. Nunca era igual. Nunca deixava de ser bom.
Ele apaixonara-se por ela quando ela não era mais do que uma menina feia, ela continuou a amá-lo quando ele começou a ficar um homem careca.

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