quinta-feira, 1 de maio de 2014

Esther.

Esther sempre se habituara a estar sozinha, desde pequena que via os pais a sair de manhã e a voltar depois do sol posto. Desde cedo que aprendera a desenrascar-se. Na escola, onde foi só meia-dúzia de vezes, nunca conseguira fazer amigos, nunca se sentira próxima com alguém. Era demasiado diferente, não era como os outros.

Nunca se tinha interessado por fazer amizade com ninguém, preferia o seu recanto, a sua paz. Mal sabia que assim devia ter sido, sempre. Mal sabia que devia ter ficado em casa naquela sexta-feira.

Numa sexta-feira qualquer, Esther saiu de casa, de mochila às costas, como sempre fazia. Desceu a calçada até à praça e passou pelas mesmas lojas e pelas mesmas pessoas de sempre. Aliás, eram quase todas as de sempre. Havia uma nova loja, com uma nova pessoa. Uma loja de velharias. Parou curiosa a olhar para a montra, e viu lá no fundo um rosto agradável, sorridente. Sentiu-se estranha, sentiu que tinha de entrar. Entrou.
Pegou na primeira peça que viu e dirigiu-se ao simpático sorriso para perguntar o preço. As palavras não saíram. Sentiu um calor a subir-lhe pelo peito. Nunca sentira nada parecido.
Deixou o vaso velho em cima do balcão, e saiu apressadamente, deixando o rapaz surpreendido a olhá-la.

Voltou lá, dia após dia, sempre com o mesmo fim e sempre com o mesmo resultado. Até que um dia foi ele a falar.

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