quinta-feira, 3 de julho de 2014

Divagação.

Deparando-se com aquele cenário dantesco, saltou. Um salto para o abismo. Seria sempre melhor que ter a alma sugada pelos demónios que por ali pairavam. Seria, ao menos, um final decente, um fim com paz.

Nos breves momentos em que voou, enquanto caia na direcção das rochas pontiagudas que lá em baixo apontavam ao céu, pensou em tudo o que tinha sido. Pensou quanto mais poderia ter feito, quanto mais poderia ter vivido. Mas era tarde, demasiado tarde. O destino estava traçado e tudo caminhava a passos largos para o fim. Caminhava não, voava. As pedras estavam a ficar tão perto que conseguia distinguir os vários tons de preto que as compunham. E tantos que eram.

Subitamente tudo acabou, tudo chegou ao fim. Enquanto o sangue escorria pelo corpo abaixo, os demónios gritavam desesperadamente pela alma que não tinham conseguido apanhar. Pelo meio, um momento de quase silêncio, onde só se ouviam os pingos de sangue a bater no chão e os uivos distantes dos demónios desalmados à procura de quem mais levar.

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