O dia ia longo, e Jeremias estava farto de andar. Doíam-lhe os pés.
Foi então que encontrou o sitio que procurava. Brilhava imponente à sua frente. Sucumbiu à pressão e não pôde deixar de chorar.
Caiu de joelhos no chão, prostrando-se sob tão belo vislumbre, soluçando, ainda.
Fazia tempo que não via semelhante coisa, e diga-se: nunca mais foi o mesmo.
Voltou a casa.
Já de volta, comemora com a família o momento vivido, abre uma velha garrafa de vinho que sob o pó acumulado em 37 anos na cave guarda um sabor único, a esposa faz aquele arroz de pato que deixa a vizinhança a suspirar com o cheiro que emana pela janela e o filho fez aquele bolo de terra que pensa fazer maravilhas.
Todos felizes, à mesa, congratulam-se pelo momento presenciado pelo pai da família.
Jeremias deleitado pelo maravilhoso manjar, digno de um deus diga-se, vai para a cama e adormece. Sonha com o momento vivido: o seu primeiro salário.
No dia seguinte levanta-se ainda meio ensonado e vai trabalhar. É empregado de mesa.
Passou um mês.
Jeremias acorda ao lado de Maria Alberta de novo com uma vontade enorme de ir trabalhar. Era dia de ir buscar o salário. Fazia hoje dois meses que trabalhara no restaurante.
Chega ao final da tarde e Jeremias faz de novo a peregrinação feita exactamente um mês antes ao escritório do patrão para recolher tão sumarento fruto.
Desilusão.
Desta vez o momento não era mágico. Não o fez cair de joelhos. Não havia salários para ninguém.
Jeremias nunca mais sairia de casa tal foi a desilusão.
A crise é uma cabra!
Bom texto!
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