sexta-feira, 13 de abril de 2012

Espelho da alma.

Consoante avançava pela rua sombria e estreita, murmurava "estou quase em casa, estou quase em casa, estou quase em casa..." inquietantemente. Um passo atrás do outro. Um passo à frente do outro. Cada vez que um qualquer barulho ecoava por entre os prédios altos que aconchegavam a rua por onde passava, o coração parava por um milésimo de segundo, e todos os medos emergiam (os bandidos, os que não são bandidos mas também são más pessoas, os bichos-papões, os cães raivosos, o escuro, o facto de estar ali sozinho), fazendo com que o caminho ficasse mais longo a cada passada. Por entre o fumo que sai dos ventiladores dos bares e do metro, vislumbra um vulto. Um vulto que é grande. Um vulto que passa a ser enorme. Um vulto que se torna gigante. Um vulto que absorve toda a luz da ruela e eclipsa tudo, por breves momentos. Paralisa com medo. O vulto passa por ele como se ali não estivesse. À medida que os som dos passos dados pelo vulto se vai afastando, ele vai recuperando a capacidade de se mexer. Apressa-se. Chega a casa. Em casa está mais seguro: não existem recantos escuros, há luz em abundância, não existem pessoas más nem papões, não existem cães. Sobra apenas um medo: o facto de estar ali sozinho. Sobra apenas um medo: o pensamento de que um dia poderá morrer sozinho.

2 comentários:

  1. Isso é que é assustador, o medo de morrer sozinho :(

    O meu maior medo é mesmo esse, ficar sozinha neste Mundo.

    E o mal é que se vê cada vez mais idosos abandonados e a viverem sozinhos e acabarem por falecer nas próprias casas sem ninguém dar conta.

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  2. Nem mais Paula, ver a maior parte dos idosos sozinhos dá muito que pensar...

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