quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Ave César!

Olhou para o lado e viu um dos bárbaros avançar com um machado de guerra que parecia pintado a sangue na direcção do seu irmão. Gritou por ele e lançou-se na sua direcção. O tempo parecia ter abrandado, cada passo era dado mais devagar que o anterior, cada silaba que saia da sua boca voava mais devagar. O bárbaro parecia imune ao abrandamento, seguia a correr, empunhando o temível machado.
Por entre os corpos dos que já tinham caído na batalha, o legionário corria desalmadamente, sentia que se o machado descesse a réstia de alma que sobrava nele ia abandoná-lo. Já tinha visto demasiados amigos morrer por causa de um império decadente, demasiados haviam dado o corpo e a alma para que a obra megalómana vivesse. Já tinha visto os pais morrerem queimados pelos que se diziam aliados. Já tinha visto o seu outro irmão trespassado por uma lança como se fosse um animal. Tudo o que tinha estava agora ameaçado por um machado ensanguentado.
Os poucos metros que o separavam do bárbaro pareciam as imensas leugas que separavam a Bretanha, onde agora corria, da sua amada Germânia.
Num grito atirou-se de espada em punho para cima do enorme bárbaro que tinha o tamanho de um urso e cabelos que pareciam a crina de um cavalo e que maneja o enorme machado como se de um pau se tratasse.
A espada atravessou-o. O olhar do gigante bárbaro transparece surpresa, com o calor da batalha nem o tinha visto chegar. Morre ali mesmo, aos pés do pequeno legionário, cai como se de uma árvore se tratasse.
Chegou tarde, a sua espada atravessou-o, mas não antes do machado ter feito o seu amado irmão em dois. Cai sobre os joelhos e brada a Júpiter e a Marte. Enraivece-se e fervilha de ódio. O resto de alma que em si havia tinha ido.
Arrumou a espada e pegou no seu defunto irmão. Carregando-o ao ombro entrou pela floresta hostil como se de casa se tratasse.
Cavou com as mão até que delas não se visse mais nada que não sangue, e destroçado enterrou o ultimo que lhe era querido. As lágrimas caiam em cima da armadura do irmão, o som que faziam tornava-se arrepiante, tal era o silêncio na floresta.
Ao acabar pôs-se de pé, limpou as lágrimas, sacudiu a terra, limpou a lâmina da sua espada. Deu um grito do fundo das entranhas que gelou a já silenciosa floresta e correu de volta o cemitério que o campo de batalha se tinha tornado.
Naquele dia nem um bárbaro voltou, fosse homem, mulher ou criança. Nesse dia um romano deixou de ser gente.

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