quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Carlos.

Como quem quer mas não pode, o Carlos lá lhe pôs a mão nas costas. Estavam frias, e ela gelou. Mexeu e remexeu e nada de encontrar o raio da aranha. Por momentos pensou senti-la a fugir por entre os dedos, mas nada...
O pai da Dalila, envergonhado com toda aquela situação, reprimiu-os e fez com que acabassem com aquela cena caricata. Nervosos, quer pela tenra idade, quer pelos raspanetes que se aproximavam ao longe, esconderam-se. Ela no armário da escada, ele debaixo da enorme cama do quarto de hospedes. O pai, de nome Afonso, bradava pelos corredores da casa à procura daqueles dois excomungados.
- É bom que apareçam! - deixava escapar por entre o enorme bigode que lhe enfeitava a cara - É que se não for a bem é a mal!
O medo começava a revolver as entranhas de ambos.
A fúria do pai aliada à cumplicidade para com ele que a mãe tinha só podia resultar numa coisa: palmadas até deixar de sentir o rabo, e isso, não ia acontecer. No momento em que pensava isto tudo, Carlos soltou um grunhido de desespero que alertou o pai.
Agora andava o velho a revolver o quarto onde a tia Lurdes e o tio José dormiam sempre que lá iam. O som que ecoava pelo quarto de portas a serem abertas. Em pânico, e já com pele de galinha, d'um salto saiu de baixo da cama e saltou da janela para a rua. Correu até mais não poder! Correu, correu e correu!
Foi para o único sitio onde se sentia seguro, o único sitio que sabia ser só seu.
De facto, aquela margem do lago, com a água a abraçar serenamente a terra, com os peixes mais corajosos a nadarem com os dorsos fora de água e a brilhar sobre o sol alaranjado daquele fim de tarde faziam daquele o lugar ideal para pensar na vida e abstrair de todos e quaisquer problemas.
E foi então que pensou no que tinha feito.
"Porque fui brincar com a aranha de estimação do pai?"

Puto estúpido... estava a pedi-las...

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